quinta-feira, 11 de março de 2010

Labirinto

(Jorge Hamilton Sampaio)

Não é novidade a visão de que nós, seres humanos, temos a consciência e sentimos na pele e na alma o fato de que estamos sempre caminhando. Já aprendemos, ou pelo menos deveríamos ter aprendido, que caminhar é preciso, que não há caminhos prontos, que o caminho se faz ao caminhar e que há pedras no meio do caminho. Também aprendemos que há espaços na caminhada em que nos defrontamos com uma encruzilhada. Nestes momentos, percebemos que há vários caminhos que podem ser seguidos, ou construídos, e que precisamos tomar uma decisão sobre qual o rumo que é melhor tomar. Tais situações podem nos deixar com uma sensação de vulnerabilidade, de indecisão, pois toda opção pressupõe um certo risco de trilhar pelo rumo certo ou de cometer equívocos. Não há como fugir desta situação. Mesmo assim, ainda que em situações limites da vida, há caminhos que podem ser escolhidos e há a possibilidade de se voltar atrás quando se identifica que se está buscando o horizonte errado. O problema não está na escolha dos caminhos. Esta é uma condição de nossa existência cuja raiz está em nossa possibilidade de liberdade para decidir. As encruzilhadas são grandes oportunidades para uma revisão de vida, para reorientação de valores e de prioridades. O problema não está na encruzilhada, mas sim no labirinto. E aqui reside uma diferença fundamental. Enquanto a função da encruzilhada é mostrar que existem diferentes caminhos que podem ser seguidos, mesmo sob riscos, a função do labirinto não é mostrar que existe uma saída, mas sim que há caminhos que levam a lugar nenhum. Andar perdido na vida, batendo em paredes estranhas, indo e voltando sem rumo, é uma condição que faz mal para a nossa existência, que nos empobrece, nos entristece e, porque não dizer, nos envilece. Porém, não é fácil identificar quando estamos em um labirinto ou diante de uma encruzilhada. Por isso precisamos de uma bússola que possa nos auxiliar na busca de discernimento. Este instrumento, tão valiosos e tão raro de saber manusear, chama-se amor, ou melhor, chama-se arte de amar. O labirinto é o contrário da encruzilhada. Quando perdidos, esquecemos que a arte de amar exige uma saída de si mesmo visando reencontrar a si mesmo na exata proporção que conseguimos nos encontrar com o outro. Fechados em nós mesmos, nossa tendência é o desespero para encontrar uma saída que, de fato, não existe. Na encruzilhada perguntamos pra onde vai o nosso amor quando o amor acabar (Chico Buarque) e arriscamos, com coragem, rumos que possam mantê-lo vivo. No labirinto perdemos de vista o amor, ficamos sem saber pra onde ele foi e, tropeçando em nossos próprio pés, seguimos por caminhos que não levam à lugar nenhum ... !

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