sábado, 13 de março de 2010

Desvãos

(Jorge Hamilton Sampaio)

Escrever é preciso.
Preciso escrever
com precisão,
por compulsão.
Palavra? Cirurgia da alma.
Vai às sombras mais escuras
e revela os sentidos que me sabem.
O que não sei sentir, consciente,
a poesia sente por mim, dolente.
O que penso que sei, consistente,
os versos o desmascaram, doente.
Se compreendo que já sou,
um texto me diz: - ainda não!
Na angústia de não ser,
um livro apetece meu querer.
Quando o amor parece fugir,
ao som uivado de demônios,
a palavra sussurra em meu peito,
uma voz de criança, que dança.
Escrever, eu preciso, a sangue:
- O ser, as sombras, o amor...
com a lâmina de um bisturi
nos desvãos abertos da alma.

Um comentário:

  1. Simplesmente lindo! Vc é mesmo um dos meus poetas prediletos! Obrigada por compartilhar essa sua riqueza!
    Bj,
    Eli

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